26 de set. de 2013

Inquietações


Nestes tempos de câmeras digitais com tanta tecnologia embutida, que se dispõem a pensar por nós, se autorregulando com base em parâmetros pré-definidos em sua fabricação, venho me questionando se, ao invés de ficarmos escravos da tecnologia, não seria mais importante considerar os aspectos relacionados à concepção, à estética, à originalidade e à criatividade, que fazem da fotografia uma forma de expressão pessoal, para que possamos obter resultados distantes das fotografias pasteurizadas e massificadas que vemos no dia-a-dia.
Não saberia, no entanto, me expressar melhor que o fotógrafo Armando Vernaglia Jr, em artigo publicado em 2012, onde ele coloca: “Quando comecei a fotografar elegi meus ídolos, entre eles estavam Philippe Halsman com sua espetacular foto Dali Atomicus ou seus belíssimos retratos em capas da revista Life, ali estavam as pinturas de Salvador Dali e seu surrealismo que para mim era como mágica pintada em tela, também estava um filme que até hoje é meu mantra visual, 2001, de Stanley Kubrick, e suas composições que conseguiam ser planas e profundas ao mesmo tempo, com sua luz que conseguia ser chapada e contrastada ao mesmo tempo, entre outras referências.
Em todas as minhas referências eu não questionava se Kubrick filmava com 35 mm, Super 35 mm, com uma Arri ou Panavision. Pouco me importava se Dali pintava com óleo ou acrílica e tão pouco ligava para se Halsman iluminava com flash ou luz contínua, se era médio formato ou 35 mm. Minhas dúvidas se relacionavam às ideias, como elas tinham surgido, como foram possíveis, como aquela estética surgiu, de onde vinha a criatividade.
A técnica sempre me pareceu algo dentro do reino das obviedades, algo que com treino, tentativas, erros e um pouco de estudo, cedo ou tarde seria dominada. Saber os diafragmas, os filmes, o ISO, os formatos de câmera, as funções de cada botão do equipamento etc., isso existe em livros, em manuais etc., mas a estética e a ideia, onde elas estavam?
Essa era minha inquietação quando comecei e ainda é hoje. Ela me faz ir a museus e ficar olhando pinturas, faz ir ao cinema para ver como textos, roteiros e falas viram imagens poéticas, me leva a ver o trabalho de outros fotógrafos e tentar compreender de onde surgiram as ideias. O como foi feito é detalhe, nada que treino, estudo e muitas tentativas não resolvam, mas o máximo que isso me traria seria conseguir copiar a técnica, mas jamais me traria uma idéia tão boa quanto a original. Esse sou eu, um sujeito inquieto e curioso sobre a estética, a harmonia, a criatividade e as idéias.
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A fotografia, como qualquer arte, para obter grandes frutos, necessita de grandes esforços, que incluem estudo e treino. Grandes fotos não nascem do acaso, não nascem do qualquer, e sim do preparo, do olhar aguçado, da soma de técnica e estética, do controle da luz, da interpretação da luz para que a mensagem seja levada adiante.”
Concordo em gênero, número e grau. E creio que cabe concluir com a pergunta que dá título ao artigo do Armando Vernaglia: Onde estão os inquietos?

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