Nestes tempos de câmeras digitais com tanta
tecnologia embutida, que se dispõem a pensar por nós, se autorregulando com
base em parâmetros pré-definidos em sua fabricação, venho me questionando se,
ao invés de ficarmos escravos da tecnologia, não seria mais importante
considerar os aspectos relacionados à concepção, à estética, à originalidade e à
criatividade, que fazem da fotografia uma forma de expressão pessoal, para que
possamos obter resultados distantes das fotografias pasteurizadas e
massificadas que vemos no dia-a-dia.
Não saberia, no entanto, me expressar
melhor que o fotógrafo Armando Vernaglia Jr, em artigo publicado em 2012, onde
ele coloca: “Quando comecei a
fotografar elegi meus ídolos, entre eles estavam Philippe Halsman com sua
espetacular foto Dali Atomicus ou seus belíssimos retratos em capas da revista
Life, ali estavam as pinturas de Salvador Dali e seu surrealismo que para mim
era como mágica pintada em tela, também estava um filme que até hoje é meu
mantra visual, 2001, de Stanley Kubrick, e suas composições que conseguiam ser
planas e profundas ao mesmo tempo, com sua luz que conseguia ser chapada e
contrastada ao mesmo tempo, entre outras referências.
Em todas
as minhas referências eu não questionava se Kubrick filmava com 35 mm, Super 35
mm, com uma Arri ou Panavision. Pouco me importava se Dali pintava com óleo ou
acrílica e tão pouco ligava para se Halsman iluminava com flash ou luz
contínua, se era médio formato ou 35 mm. Minhas dúvidas se relacionavam às ideias,
como elas tinham surgido, como foram possíveis, como aquela estética surgiu, de
onde vinha a criatividade.
A técnica
sempre me pareceu algo dentro do reino das obviedades, algo que com treino,
tentativas, erros e um pouco de estudo, cedo ou tarde seria dominada. Saber os
diafragmas, os filmes, o ISO, os formatos de câmera, as funções de cada botão
do equipamento etc., isso existe em livros, em manuais etc., mas a estética e a
ideia, onde elas estavam?
Essa era
minha inquietação quando comecei e ainda é hoje. Ela me faz ir a museus e ficar
olhando pinturas, faz ir ao cinema para ver como textos, roteiros e falas viram
imagens poéticas, me leva a ver o trabalho de outros fotógrafos e tentar compreender
de onde surgiram as ideias. O como foi feito é detalhe, nada que treino, estudo
e muitas tentativas não resolvam, mas o máximo que isso me traria seria
conseguir copiar a técnica, mas jamais me traria uma idéia tão boa quanto a
original. Esse sou eu, um sujeito inquieto e curioso sobre a estética, a
harmonia, a criatividade e as idéias.
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A
fotografia, como qualquer arte, para obter grandes frutos, necessita de grandes
esforços, que incluem estudo e treino. Grandes fotos não nascem do acaso, não
nascem do qualquer, e sim do preparo, do olhar aguçado, da soma de técnica e
estética, do controle da luz, da interpretação da luz para que a mensagem seja
levada adiante.”
Concordo em gênero, número e grau. E creio
que cabe concluir com a pergunta que dá título ao artigo do Armando Vernaglia: “Onde estão os inquietos?”